Aruká Juma, 70.

Juma

Homenagem feita por Luciana França, antropóloga e professora do Programa de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e colaboradora da Rede Vagalumes.

 

O que dizer sobre Aruká Juma, último homem de seu povo que teve a chance de viver com os seus, antes de restar só, com as filhas e netos, exilado para sempre de sua própria comunidade e de seu próprio passado? O que quer que se diga estará sempre muito aquém de alcançá-lo. Sua solidão não tinha parâmetros. Aruká nunca falou português e, mesmo em sua língua, falava pouco. Observava o mundo à sua volta de maneira silenciosa. Sorria, às vezes. Chorava a “saudade grande”, o ajapyryty tupi-kagwahiva, debruçado sobre os túmulos dos parentes mortos, enterrados na terra onde viveram um dia, antes dos massacres genocidas que quase os exterminaram por completo.

Consta que em 1964 ocorreu a última grande chacina, da qual Aruká e alguns outros juma sobreviveram. Desse massacre, houve investigação da Polícia Federal, inquérito, confissões e numerosos indícios de quem seriam os mandantes que, entretanto, nunca foram punidos. Segundo os relatos das filhas de Aruká, que nasceram duas décadas depois e ouviram apenas os relatos do que aconteceu na época, os brancos chegaram por toda parte e, depois que os Juma lançaram todas as suas flechas, eles atiraram com suas armas de fogo. Quase todos morreram e algumas meninas teriam sido raptadas. Os corpos de alguns Juma foram esquartejados e suas partes – cabeças e costelas – fincadas em paus e deixadas expostas.

Por mais de trinta anos, o pequeno grupo juma que conseguiu escapar ao massacre, viveu em seu próprio território, no sudeste do estado do Amazonas, evitando o contato com os brancos. Nesse período, nasceram as três filhas de Aruká com sua esposa que faleceu, quando elas eram ainda pequenas, e foi enterrada nas terras onde viviam. Ao longo dos anos, foram reduzidos a tão poucos que decidiram fazer novas alianças. Foram viver na Terra Indígena Uru-eu-wau-wau, em Rondônia, levados por um agente da Funai. Ali se casaram e tiveram filhos e filhas dessas novas uniões. Durante mais de dez anos, longe de sua terra e de seus parentes nela enterrados, Aruká acalentou o sonho de poder voltar. Na aldeia dos Uru-eu-wau-wau, perguntava insistentemente aos brancos que ali passavam sobre a viagem à sua terra natal. Até que, em 2012, Aruká pôde retornar definitivamente para suas terras, onde descansavam seus antepassados.

Durante quase dez anos, até fevereiro de 2021, Aruká pôde estar com as filhas, genros, netas e netos de volta em suas terras, compartilhando com eles seus conhecimentos, sua vida e, por conseguinte, a vida de seu povo. Segundo os relatos das filhas de Aruká, na época do último ataque em que os Juma foram praticamente exterminados, o pai delas tinha por volta de 15 anos. Não é possível saber ao certo quando nasceu Aruká, mas essa informação talvez seja a mais segura para estimar a sua idade. Possivelmente, ele tinha pouco mais de 70 anos quando contraiu Covid-19 dentro de seu próprio território. Não estava com a idade tão avançada como se noticiou após a sua morte. Provavelmente, teria ainda muitos anos pela frente, que teriam sido fundamentais para que as crianças tivessem a oportunidade de conviver com ele e apreender sua história e seu legado.

Aruká foi enterrado na aldeia juma, junto de sua falecida esposa, como pediu às filhas que fosse feito. 

 

Pedro Cardoso, jornalista luso-angolano, registrou no portal  transdisciplinar e colaborativo Buala:

 

Aruká, o último guerreiro do povo Juma.

Os números não contam o choro da selva. Morreu o último Juma, o último guerreiro de um povo arrasado por pestes e pelos homens no que é hoje o Brasil. O velho Aruká não resistiu a este coronavírus que subiu os rios da Amazónia, desde a grande cidade até aos confins da sua maloca. A doença e vírus estranhos continuam a dizimar os indígenas da América Latina. Século após século, num ciclo interminável de descaso e solidão.

Foi na quarta-feira, 17 de fevereiro, quando Aruká se uniu aos antepassados do povo Juma. Não se sabe ao certo quantos anos tinha, “entre 86 e 90”, diz a BBC Brasil. Números que não importam muito, na verdade. Aruká era o último varão deste povo da Amazónia, no norte do Brasil. O coronavírus apanhou-o na sua aldeia isolada do mundo pestilento. Supostamente.

A pandemia que aterra o mundo foi mais uma para o velho líder de uma tribo que tinha 15 mil pessoas no início do século XX, segundo dados oficiais. Pouco a pouco, mas sistematicamente, os Juma foram sendo exterminados pelos vírus das gentes vindas da “terra dos brancos”. E pelas balas. Entre 1940 e 1964, conta a BBC, os massacres sucederam-se, com os interesses da borracha a metralharem a tribo. Nos inícios de 1990, apenas seis pessoas sobreviviam. Com a morte do ancião, restam três. A filha primogénita Borehá, assume agora a liderança do grupo, rompendo a tradição de cacique homem sucede a cacique homem. 

Durante décadas, Aruká escapou ao genocídio, mas a dor da alma fragilizava-o. “Ele era um guerreiro. Contava histórias das brigas com os seringueiros, de como, quando atacaram, o povo Juma fugiu ou atacou de volta”, conta à BBC o fotógrafo Gabriel Uchida. “Ele era forte, firme, mas sentia essa solidão, de ser só ele e as três filhas. Mesmo assim, continuava a praticar as coisas da cultura dele.” Esta força tornou-o numa figura incontornável para os povos da região, que o tratavam por amóe, um título honorável.

Em 1998, as autoridades levaram Aruká e a família para terras indígenas de um povo irmão, os Uru-eu-wau-wau, Foram tempos difíceis em que o velho guerreiro caiu numa depressão profunda. O exílio forçado arrastar-se-ia por dez anos. Em 2008, as autoridades deixaram os Juma regressar à terra ancestral.

Luciana França, professora de Antropologia da Universidade Federal do Oeste do Pará, acompanhou este regresso. Conta: “Pouco a pouco, e não sem alguma dificuldade, eles iam reconhecendo as curvas do rio Açuã e relembrando os caminhos por onde passaram. Enquanto desembarcávamos nossas coisas e preparávamos o acampamento, Aruká, sem demora, embrenhou-se na mata como se quisesse ver com os próprios olhos a terra que havia deixado para trás. Até a expressão quase sempre triste de seu rosto parecia mais aliviada. Quando foi para a terra dele, desabrochou.”

Para chegar ao território dos Juma, são cerca de quatro horas de viagem desde Porto Velho, estado brasileiro de Rondônia, até à margem do rio Açuã, seguidas de duas horas de barco. “Quando chegou”, continua Luciana França, “uma das primeiras coisas que Aruká fez foi ir até o local onde sua esposa estava enterrada. Ali, entoou seu ‘ajapyryty’, o choro ritual repleto de emoção para lembrar e homenagear os mortos. Na primeira noite em que dormimos lá, cada um na sua rede, acampando no mato, um começava a chorar. E outro chorava também.”

O velho Aruká lutou agora a última batalha, lado-a-lado com tantos índios brasileiros esquecidos pelo governo de Bolsonaro. Os números oficiais dizem que 567 indígenas morreram de coronavírus no Brasil. As associações dos povos nativos dizem que são 970. Num comunicado pela morte de Aruká, mostram uma revolta desmedida. Criticam o descaso “criminoso” do governo brasileiro pelo destino dos indígenas em época de pandemia. Sem receio, acusam: “O Governo assassinou-o”. 

Reagir e sobreviver.

A morte silenciosa destas comunidades no Brasil e na América Latina lembra uma história velha. A varicela e outras doenças trazidas pelos europeus, depois da chegada de Colombo, provocaram um esquecido holocausto indígena. Os números do genocídio alternam segundo a fonte, mas crê-se que, menos de duzentos anos depois da chegada de espanhóis e portugueses, os mortos ascendiam a 60 milhões. A maior causa de morte foram as doenças.

Em tempos de novas pestes, uma vez mais se expõe a vulnerabilidade destas gentes. Não são prioridade para os governos dos países “modernos” onde foram encaixotados. Mas os tempos são outros. Os indígenas já não esperam por governos e congressos e senados. Os indígenas latino-americanos atuam.

A própria aldeia de Aruká é um exemplo. Quando a pandemia se agravou, o povoado isolou-se. Qualquer visitante tinha de passar por um controlo à entrada, fazer um teste de coronavírus e entrar em quarentena. Este auto-isolamento replicou-se em múltiplas comunidades em toda a América Latina. Panamá, Guatemala, Chile e Argentina; México, Costa Rica, Peru e Nicarágua. Em todos os lados as aldeias indígenas fecharam-se sobre si mesmas para evitar a entrada de forasteiros infetados pela doença da moda.

As ações multiplicam-se e vão mais além do óbvio. Se os materiais informativos e de proteção não chegam ou são escassos, então há que produzi-los. Muito povos estão a criar os seus próprios panfletos nas línguas nativas, como descreve um relatório da Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas sobre o tema. As rádios comunitárias têm sido essenciais para difundir informação preventiva sobre a pandemia. Para visibilizar o efeito do coronavírus nas comunidades indígenas, os vários povos organizam-se para contabilizar os seus doentes e mortos. Uma achega importante, numa altura em que os governos constantemente os eclipsam das cifras oficiais.

Para combater a escassez de alimentos provocada pelo auto-isolamento, em vários países criam-se redes de cooperação e de intercâmbio direto de produtos. “O povo ajuda oi povo”, diz-se no Peru. E se não chegam medicamentos, as comunidades resgatam os conhecimentos da medicina tradicional. No Equador e no Peru, por exemplo, publicaram-se compêndios de receitas com ervas medicinais antigas. Alguns povos criaram até centros de armazenamento de plantas para elaborar as fórmulas que podem aliviar os sintomas dos seus doentes. Na Bolívia, as parteiras indígenas tomam um papel de destaque, já que as mulheres das aldeias remotas evitam os hospitais públicos onde o risco de infeção é maior.

Além do corpo, a chamada “defesa espiritual” é um dos eixos principais da ação contra o vírus que veio de longe. Entre os mapuches do Chile, as cerimónias e saudações refletem sobre questões como soberania alimentar, património sanitário ancestral e medicina tradicional.

Nada disto sai à luz num mundo virado para o próprio umbigo. Como sempre, os indígenas são sombras, os pobres que nem vale a pena recordar para não doer na consciência. Enquanto nas grandes cidades – as modernas, as evoluídas, as informadas – todos se fecham em casa esperando que tudo passe numa passividade doentia, os invisíveis reagem e atuam.  Não por serem diferentes. É que para eles, a paralisia não é um estado metafórico, é a morte em si mesma.

Salve a vida. Salve todos eles. Salve amoé Aruká! 

 

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Opi – Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, registraram:

 

A devastadora e irreparável morte de Aruká Juma.

É desoladora a morte por complicações de Covid-19 do último homem do povo Juma, o guerreiro Amoim Aruká. O povo Juma sofreu inúmeros massacres ao longo de sua história. De 15 mil pessoas no início do século XX, foi reduzido a cinco pessoas em 2002. Um genocídio comprovado, mas nunca punido, que levou seu povo quase ao completo extermínio. O último massacre ocorreu em 1964 no rio Assuã, na bacia do rio Purus, perpetrado por comerciantes de Tapauá interessados pela sorva e castanha existente no território Juma. No massacre foram assassinadas mais de 60 pessoas, apenas sete sobreviveram. Integrantes do grupo de extermínio contratados pelos comerciantes relataram atirar nos Juma como se atirassem em macacos. Os corpos indígenas foram vistos por ribeirinhos da região, após o massacre, servindo de comida para porcos do mato, inúmeras cabeças decapitadas espalhadas pelo chão da floresta. O mandante do crime, ciente do ocorrido, se vangloriou por ter sido o responsável de livrar “Tapauá dessas bestas ferozes”. Essa história jamais deve ser esquecida.

Aruká, um dos sobreviventes, continuou sua luta de resistência, vendo seu povo beirar o desaparecimento. Lutou pela demarcação do território Juma, que foi homologado apenas em 2004, a Terra Indígena (TI) Juma. Os sobreviventes Juma, apesar do risco de desaparecimento, viram seu povo crescer novamente na década de 2000, por meio de casamentos com indígenas Uru Eu Wau Wau, povo indígena também de língua Tupi-Kagwahiva.

Por estarem sujeitos a uma imensa vulnerabilidade e risco de desaparecimento, o povo Juma é considerado de recente contato e consta entre os povos a serem protegidos por Barreiras Sanitárias, cuja instalação foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal a pedido dos povos indígenas, de representantes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), por meio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n° 709 (ADPF 709). O pedido foi feito em julho de 2020 e o Ministro Luís Roberto Barroso deferiu. Porém, diante das dificuldades alegadas pelo Governo Bolsonaro, o ministro deu o prazo de até setembro de 2020 para que as Barreiras na TI Juma fossem instaladas. Em agosto de 2020 o Governo Bolsonaro disse que iria fazer a Barreira no rio Assuã, na REBIO Tufari, fora da TI Juma, seria uma Barreira Sanitária composta pela Polícia Militar e DSEI-Humaitá. No entanto, em dezembro do mesmo ano, afirmou que faria apenas um posto de controle de acesso na BR 230 – Rodovia Transamazônica, mas não comprovou o seu efetivo funcionamento.

Se o posto de acesso funcionou ou não, como vinha representantes da COIAB e APIB cobrando há meses nas Salas de Situação com o Governo Bolsonaro, já não importa mais para Aruká. O que se sabe, comprovadamente, é que ele agora está morto. É tristemente com seus mortos que os povos indígenas comprovam seus apelos. A COIAB e APIB avisaram que os povos indígenas de recente contato estavam em extremo risco. O último homem sobrevivente do povo Juma está morto. Novamente, o governo brasileiro se mostrou criminosamente omisso e incompetente. O governo assassinou Aruká. Assim como assassinou seus antepassados, é uma perda indígena devastadora e irreparável.

Manaus, Amazonas, 17 de fevereiro de 2021.

 

Amazônia Real e o Blog Jovens Cidadãos da Amazônia

 

A agência Amazônia Real e o Blog Jovens Cidadãos da Amazônia comunicam, consternados, o falecimento do guerreiro Aruká Juma, por volta das 9h (10h em Brasília) da manhã desta quarta-feira (17), vítima de Covid-19 no Hospital de Campanha de Rondônia.

Aruká foi um sobrevivente do massacre de seringueiros aos Juma no igarapé do Onça Rio, no município de Tapauá, no sul do Amazonas, em 1964. No fim dos anos 80, conquistou o reconhecimento de seu território e virou um símbolo da luta e resistência dos povos indígenas da Amazônia.

Nosso profundo pesar às filhas: a cacica Borehá Juma, Maitá Juma e Madeí Juma; aos genros Erowak Uru-Eu-Wau-Wau e Puren Uru-Eu-Wau-Wau; aos netos: Bitaté, Puré, Kunhãvé, Kuaimbu, Kajubi, Thiago Tembu, Mborep, Morangüi, Tejuvi, Anaíndia, Poteí; além dos bisnetos, parentes e amigos.
Aruká Juma Vive!

 

Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, registrou:

 

Aruká:

Guerreiro.

Venceu massacres, racismo e a destruição da Amazônia.
Ensinou que o canto da floresta é como as águas descendo o rio.
Rio que agora ele resolveu subir, para poder se encontrar com os Encantados.

 

Instituto SocioAmbiental (ISA), registrou:

 

Covid-19 mata Aruká Juma, último ancião de seu povo.

Aruká sobreviveu ao massacre dos Juma, na década de 1960, mas não resistiu ao novo coronavírus; entidades cobram responsabilidade da Funai


Morreu, nesta quarta-feira (17/2), o último ancião do povo Juma. Aruká Juma estava internado há cerca de um mês devido ao agravamento do quadro de Covid-19. Aruká deixa três filhas, Mandeí, Maitá e Borehá, além dos netos Bitaté, Puré, Kunhãvé, Kuaimbu, Kajubi, Thiago Tembu, Mborep, Morangüi, Tejuvi, Anaíndia, Poteí; bisnetos, parentes e amigos.

Aruká começou a apresentar sintomas ainda em janeiro e ficou alguns dias internado em Humaitá (AM). Em 26 de janeiro foi hospitalizado novamente e, no dia 2 de fevereiro, foi transferido para o Hospital de Campanha de Porto Velho (RO).

Aruká foi um dos sete sobreviventes do massacre no rio Assuã, no sul do Amazonas, em 1964. O ataque foi perpetrado por comerciantes de Tapauá interessados na sorva e na castanha do território Juma. Mais de 60 pessoas foram assassinadas, em mais um triste capítulo na história de sucessivos massacres que atingiram o povo Juma ao longo dos séculos.

No fim dos anos 1990, Aruká conquistou o reconhecimento de seu território e virou um símbolo de luta e resistência dos povos indígenas da Amazônia. Estima-se que no século XVIII existiam 15 mil indivíduos do povo Juma. A expansão das frentes extrativistas trouxe consigo a violência, e os Juma se viram reduzidos a poucas dezenas na década de 1960. Em 2002 restavam apenas cinco indivíduos: um pai com suas três filhas e uma neta. Os Juma são falantes de uma língua Tupi-Kagwahiva, a mesma dos povos Uru-eu-Wau-Wau, Amondawa, Tenharim e Parintitim.

O antropólogo Edmundo Peggion, que trabalhou com os Kagwahiva durante anos e esteve com os Juma em 1998, descreveu Aruká como um homem respeitado. “Um homem que detinha muito respeito. Uma pessoa séria, que carregava no semblante toda a experiência de sofrimento, e que trazia com ela a tradição Tupi-Kagwahiva”, afirmou.

Em 1998, os Juma foram transferidos para a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, onde as filhas de Aruká, Mandeí, Maitá e Borehá, se casaram com indígenas Uru-Eu. Anos depois, a família retornou à Terra Indígena Juma. Dois parentes de Aruká faleceram na TI Uru-Eu-Wau-Wau depois da mudança. Hoje, cerca de 17 indígenas habitam a TI Juma. Além de Aruká, outros sete Juma foram contaminados, mas estão em recuperação.

Para Jordeanes do Nascimento Araujo, Professor de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a morte de Aruká deve entrar na conta da Fundação Nacional do Índio (Funai). “Essa contaminação é fruto de total negligência da Funai, que não tem até agora um plano de contigência”, disse. Ele critica o fato de o órgão não ter feito nada para impedir a contaminação de um grupo pequeno, de 17 pessoas. “É a continuidade do extermínio do povo Juma”, lamentou.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e o Observatório dos Povos Indígenas Isolados emitiram uma nota sobre o episódio.

 

Ministério Público Federal de Rondônia (MPF – RO):

 

Com pesar, o Ministério Público Federal (MPF) lamenta o falecimento da liderança indígena Aruká Juma, de 86 anos. Seu falecimento ocorreu nesta quarta-feira (17), às 9h, no Hospital de Campanha de Rondônia, em Porto Velho. Aruká estava internado desde o dia 2 de fevereiro na capital para tratar complicações em decorrência da covid-19. O sepultamento será na aldeia, em Canutama (AM). Assim que o MPF soube da necessidade UTI para o indígena, acionou a Secretaria de Estado da Saúde, que disponibilizou o leito no mesmo dia.

Na metade da década de 1960, o povo Juma quase foi extinto devido aos massacres que os demais parentes sofreram nas décadas anteriores por parte de seringueiros, madeireiros e pescadores no território, que fica margeado no rio Assuã, em Canutama (AM). Aruká era um dos sobreviventes da sua etnia. O indígena deixa três filhas, últimas pessoas da etnia Juma: Mandeí Juma, Maitá Juma e Boreha Juma.

 

Uruweuwauwau Costa, registrou nas redes sociais:

 

Não tenho palavras. Ontem, faleceu o Bepro Mentuktire, neto do mestre Raoni. Hoje, falece Aruká, último homem Juma. Aruká, era um símbolo de resistência, o último guerreiro Juma. Muito triste com todas essas perdas e com o desespero que bate. Como parar essa tragédia que se abate sobre as comunidades indígenas? Como parar as ameaças e garantir a integridade dos territórios indígenas que sempre existiram? A pandemia só acelerou a tragédia.

 

Aurelio Michiles, diretor de cinema:

 

A historia dos índios Juma ( Canutama-AM) não se difere de tantas outros povos amazônicos, sempre resistindo a invasão das suas terras pelos extrativistas. Mas, a tragédia desse povo se completou com a morte de um dos últimos de seus representantes: Aruká Juma, ainda jovem em 1960 presenciou e sobreviveu ao massacre acontecido contra o seu povo. Nessa semana, morreu vitima da Covid-19, internado num hospital de Lábrea. Precisou ser entubado, mas não havia UTI. Foi transferido em situação de emergência para Porto Velho. Não resistiu.

Mais uma bela história que se apaga em um Brasil à deriva.

 

Cida Falabella, vereadora do PSOL em Belo Horizonte (MG):

 

Não há palavras na nossa língua para descrever a perda que significou a morte de Aruká Juma, último ancião do povo Juma, nessa semana. Sobrevivente de uma tentativa de extermínio em massa em 1964, ele morreu eu decorrência das complicações da Covid-19, na última quarta (17/02).

Deixou duas filhas, as últimas da etnia Juma, que já chegou a ter entre 12 e 15 mil membros no século XVIII.

A má gestão da pandemia pelo governo Bolsonaro faz parte de um projeto de extermínio dos povos indígenas que perdura há séculos. #BolsonaroGenocida!

 

Não deixem de ler também a reportagem de denúncia do portal “A Crítica”:

 

Morre de Covid-19 o guerreiro Aruká Juma (clique aqui)

Foto em Destaque: Gabriel Uchida/Kanindé/Amazônia Real

Fotos da Galeria: Gabriel Uchida/Kanindé/Amazônia Real; (IDEM); (IDEM); (IDEM); Odair Leal/Amazônia Real – 2014; (IDEM); (IDEM); Gabriel Uchida/Kanindé/Amazônia Real; Odair Leal/Amazônia Real – 2014; (IDEM); (IDEM); (IDEM); (IDEM); Gabriel Uchida/Kanindé; (IDEM); (IDEM); Pedro Bentes/Kanindé; Reprodução//Pedro Cardoso/Buala; Odair Leal/Amazônia Real – 2014; (IDEM); Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau/Amazônia Real; Odair Leal/Amazônia Real – 2014; Reprodução//Internet.

Outras fontes consultadas

Amazônia Real
https://amazoniareal.com.br/morre-de-covid-19-o-guerreiro-aruka-juma/

https://amazoniareal.com.br/guerreiro-aruka-juma-luta-pela-vida-em-hospital-de-humaita/

https://amazoniareal.com.br/indios-juma-uma-historia-de-abandono-e-sobrevivencia-na-amazonia/ 

Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé

www.kaninde.org.br/aruka-juma-nota-de-despedida/

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Opi – Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato
https://apiboficial.org/2021/02/17/a-devastadora-e-irreparavel-morte-de-aruka-juma/

Ministério Público Federal (MPF)
http://www.mpf.mp.br/ro/sala-de-imprensa/noticias-ro/nota-de-pesar-pelo-falecimento-do-indigena-aruka-juma

Instituto SocioAmbiental (ISA)
https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/covid-19-mata-aruka-juma-ultimo-anciao-de-seu-povo

BBC
https://www.bbc.co.uk/news/world-latin-america-56161446

https://www.bbc.com/mundo/noticias-56191588

G1
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2021/02/18/apos-morte-do-ultimo-indio-juma-liderancas-associam-covid-19-com-exterminio-de-povos-indigenas.ghtml

https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2021/02/18/aruka-juma-veja-repercussao-da-morte-do-indigena.ghtml