Ponakatú, 74

Asurini

Ponakatú ou Poangakatóa Asurini, ou ainda dona Vanda, foi a primeira de uma série de vítimas fatais da Covid-19 entre os Asurini de Trocará: ela faleceu no dia 22 de maio de 2020. Dois dias depois, morreram seu esposo (o cacique Purake), a irmã de Purake (Iranoa) e o pajé Sakamiramé. 

Esta tragédia de morte e epidemia não é nova entre os Asurini de Tocantins, mas não nos deixa de causar profunda tristeza. Ainda no final do século XIX, foi iniciada a construção de uma ferrovia que atravessou o território dos Asurini e dos Parakanã, levando doenças e perseguições. Houve revide por parte dos indígenas contra os não-indígenas, e contraofensiva armada e poderosa por parte dos invasores. Esta ferrovia, que só foi concluída em 1945, tinha por objetivo ter acesso aos ricos castanhais no entorno das atuais cidades de Marabá e Tucuruí, dentro do território indígena.

Por meio do verbete “Asurini do Tocantins” publicado na coletânea PIB/ISA escrito por Lucia Andrade da CPI/SP, sabemos que, os Asurini foram “pacificados” em 1953, depois de muita resistência. Nesta época contava-se 190 indígenas, que estabeleceram moradia perto do posto do SPI. 

Ainda segundo o levantamento do ISA, neste mesmo ano do contato, mais de 50 índios morreram de gripe e disenteria. Este período é descrito pelos Asurini como uma época onde não havia nem mesmo tempo para enterrar todos os seus mortos. A maior parte dos sobreviventes da catástrofe do contato retornou às matas ainda em 1953. Apenas um pequeno grupo permaneceu junto ao posto do SPI até 1956. Neste ano, porém, devido a desentendimentos com agentes indigenistas, esse grupo também fugiu para o interior da mata, regressando, todavia, para o posto em 1958. Já em 1962, o segundo grupo Asurini, que havia permanecido na mata, volta ao posto do SPI. Novamente, a gripe provoca uma série de mortes e os sobreviventes decidem voltar, mais uma vez, à região do Pacajá, longe das frentes de atração do homem branco.

Depois disso tudo, as ameaças à sua sobrevivência não pararam, como a construção da hidrelétrica de Tucuruí, iniciada em 1974, logo à montante do território asurini, e as obras de infraestrutura do projeto minerário Grande Carajás. 

Hoje, novamente, os Asurini do Tocantins convivem com a sombra mortífera das epidemias e da falta de assistência à saúde por parte dos invasores. O problema maior é que, agora, parece não haver mais espaço ou floresta para onde fugir!

FONTES

Foto em Destaque: Acervo do grupo de pesquisa HELRA CNPq e QUIMOHRENA CNPq
Fotos da Galeria: Acervo dos grupos de pesquisas HELRA CNPq e QUIMOHRENA CNPq; Diversidade Linguística (INDL – IPHAN/Ministério da Cidadania); Acervo dos grupos de pesquisas HELRA CNPq e QUIMOHRENA CNPq.

Diversidade Linguística (INDL – IPHAN/Ministério da Cidadania)
https://www.facebook.com/diversidadelinguistica/photos/a.598022100324557/612402838886483

Instituto Socioambiental
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