Kypatyry Kypyxyry, 90

Apurinã

Homenagem escrita pela antropóloga Juliana Schiel e por Maypatxi (Vanessa Apurinã Souza) – Secretária Executiva da Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi (OPIAJ)

 

No dia 16 de junho, Kypatyry Kypyxyry, seu Moacir de Souza Apurinã,  faleceu de Covid-19. Ele havia dado entrada no hospital de Pauini, no Amazonas, às 10h40 da manhã do dia anterior (segunda-feira, dia 15 de junho). No hospital, realizou um teste rápido para Covid-19 e o resultado foi positivo. Foi, então, encaminhado para uma sala de isolamento porque apresentava muita falta de ar e se sentia bastante cansado. No dia seguinte, terça-feira, faleceu às 12h30.

Moacir tinha 90 anos e nasceu na colocação São José do Tacaquiri, hoje Terra Indígena Peneri-Tacaquiri. Filho de Raul e Maria, era neto de Antônio Maia e de André, e bisneto de Payanã (Mayõpyry), importantes lideranças e pajés dos tempos antigos. Aos 30 anos de idade, Moacir decidiu vir morar na região de Santa Vitória.  Ainda que todo Vale do Tacaquiri fosse região historicamente reconhecida como indígena, e bravamente defendida por André no passado, a região de Santa Vitória não foi reconhecida no primeiro processo de regularização, ficando de fora do perímetro da Terra Indígena Peneri/Tacaquiri. Apesar da pressão de pessoas de fora para que se mudasse para dentro da Terra Indígena demarcada, Moacir sempre defendeu a sua aldeia em Santa Vitória como terra indígena. Para isso, tinha os argumentos da história da região, que conhecia como ninguém. A área está em processo de regularização.

“Moacir foi uma das minhas famílias quando trabalhei no Purus. Inúmeras vezes ele e Dona Maria, sua esposa, receberam-me. Pessoas doces e amorosas, guardaram minhas coisas, aconselharam-me, contaram histórias de pajés, histórias antigas. Seu Moacir me mostrou os lagos habitados por pajés e os muitos sinais da presença antiga dos Apurinã na área da Santa Vitória.” (Juliana Schiel, antropóloga)

A Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi (OPIAJ), publicou a seu respeito:

“Ele era pajé e leva consigo conhecimento de nossa cultura e tradição. O sentimento que nós temos é que perdemos uma biblioteca de saberes, porém aceitamos a ordem divina de nosso Tsura. Seu ciclo se encerrou e novos ciclos se iniciarão. Nós, enquanto povo e organização, estaremos aqui para dar continuidade na sua e nossa luta.”

FONTES

Foto em Destaque: Juliana Schiel

Fotos na Galeria: Juliana Schiel; Juliana Schiel e Maypatxi (Vanessa A. Souza)

Leitura sugerida: “Tronco Velho: histórias Apurinã” – tese da antropóloga Juliana Schiel.

https://bityli.com/UY9F0 


Texto e fotos enviados pela antropóloga Juliana Schiel e por Maypatxi (Vanessa Apurinã Souza) – Secretária Executiva da Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi (OPIAJ)